terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A menina que roubava livros- Markus Zusak



É um livro que recomendo com toda a certeza, adorei e eis uma pequena apresentação:

"• EIS UM PEQUENO FATO •


Você vai morrer.


Com absoluta sinceridade, tento ser otimista a respeito de todo esse assunto, embora a maioria das pessoas sinta-se impedida de acreditar em mim, sejam quais forem meus protestos. Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo.



• REAÇÃO AO FATO SUPRACITADO •


Isso preocupa você?


Insisto — não tenha medo.

Sou tudo, menos injusta.

— É claro, uma apresentação.

Um começo.

Onde estão meus bons modos?

Eu poderia me apresentar apropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, eu me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível. Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora gentilmente. Nesse momento, você estará deitado(a). (Raras vezes encontro pessoas de pé.) Estará solidificado(a) em seu corpo. Talvez haja uma descoberta; um grito pingará pelo ar. O único som que ouvirei depois disso será minha própria respiração, além do som do cheiro de meus passos. A pergunta é: qual será a cor de tudo nesse momento em que eu chegar para buscar você? Que dirá o céu? Pessoalmente, gosto do céu cor de chocolate. Chocolate escuro, bem escuro. As pessoas dizem que ele condiz comigo. Mas procuro gostar de todas as cores que vejo o espectro inteiro. Um bilhão de sabores, mais ou menos, nenhum deles exatamente igual, e um céu para chupar devagarinho. Tira a contundência da tensão. Ajuda-me a relaxar."



Um pequeno trecho do Diário da Morte:

"Nunca me esquecerei do primeiro dia em Auschwitz, da primeira vez em Mauthausen. Nesse segundo local, com o correr do tempo, também passei a pegá-los no fundo do grande penhasco, onde suas fugas acabavam terrivelmente mal. Havia corpos quebrados e meigos corações mortos. Ainda assim, era melhor do que o gás. Alguns deles eu apanhava ainda a meio caminho da descida. Salvei você, pensava comigo mesma, segurando suas almas no ar, enquanto o resto de seu ser — suas carcaças físicas — despencava na terra. Eram todos leves, como cascas de nozes vazias. E um céu enfumaçado nesses lugares. O cheiro fazia lembrar uma fornalha, mas ainda muito frio. Estremeço ao recordar — ao tentar desrealizar aquilo. Bafejo ar quente nas mãos, para aquecê-las. Mas é difícil mantê-las aquecidas quando as almas ainda tiritam. Deus. Sempre pronuncio esse nome, ao pensar naquilo. Deus. Duas vezes, eu repito. Digo o nome d'Ele na vã tentativa de compreender. "Mas não é sua função compreender." Essa sou eu respondendo. Deus nunca diz nada. Você acha que é a única pessoa a quem Ele nunca responde?E eu paro de me escutar, porque, para dizê-lo curto e grosso, eu canso a mim mesma. Quando começo a pensar desse jeito, fico inteiramente exausta e não tenho o luxo de me entregar à fadiga. Sou obrigada a continuar, porque, embora isso não se aplique a todas as pessoas da Terra, é verdade para a vasta maioria: a morte não espera por ninguém — e, quando espera, em geral não é por muito tempo."


Dominós e Trevas (Nessa parte eu parei uns 30 minutos pra refletir sobre o trecho em negrito.)

"Quando terminou a quarta partida de dominó, Rudy começou a en-fileirar as pedras na vertical, criando desenhos que serpenteavam pelo chão da sala. Como era seu hábito, também deixou alguns espaços, para o caso de haver interferência do dedo travesso de uma das irmãs, o que geralmente acontecia.

— Posso derrubar eles, Rudy?

— Não.

— E eu?

— Não. Todos vamos derrubá-los.

Rudy montou três formações separadas, que levavam à mesma torre de dominós no centro. Juntos, eles observariam o desmoronamento de tudo que fora tão cuidadosamente planejado, e todos sorririam ante a beleza da destruição. (...)
— A gente pode acender uma vela, Rudy?

Era uma coisa que o pai fizera muitas vezes com eles. Apagava a luz e todos viam os dominós caírem à luz da vela. De algum modo, isso tornava o acontecimento mais grandioso, um espetáculo maior."



Mais reflexões da morte...

"Provavelmente, é lícito dizer que, em todos os anos do império de Hitler, nenhuma pessoa pôde servir ao Führer com tanta lealdade quanto eu. O ser humano não tem um coração como o meu. O coração humano é uma linha, ao passo que o meu é um círculo, e tenho a capacidade interminável de estar no lugar certo na hora certa. A conseqüência disso é que estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma coisa pode ser as duas. Mas eles têm uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer."



A frase da contra-capa:

"Quando a Morte conta uma históra, você deve parar para ler!"

E a última nota da nossa amiga:


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